manuel rosário - gastro
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Doença de Crohn

A doença de Crohn é uma doença que provoca inflamação, ou edema, e irritação de qualquer parte do tubo digestivo, também designado por trato gastrointestinal. A zona mais afetada é a parte final do intestino delgado, o chamado íleo.
Na doença de Crohn, a inflamação penetra no revestimento da parte afetada do trato gastrointestinal e o edema decorrente pode provocar dor e diarreia. A inflamação crónica pode produzir tecido cicatricial que se acumula no interior do intestino, criando uma estenose, isto é, um estreitamento que pode retardar o movimento dos alimentos através do intestino, provocando dor ou cólicas.
A doença de Crohn é uma Doença Inflamatória Intestinal a designação geral atribuída às doenças que causam inflamação e irritação dos intestinos. Esta doença pode ser difícil de diagnosticar, porque os seus sintomas são semelhantes a outras perturbações intestinais, como a Colite Ulcerosa e Síndrome do Cólon Irritável (que não é uma doença inflamatória intestinal). Por exemplo, tanto a colite ulcerosa como a doença de Crohn provocam dor abdominal e diarreia.

  • Como se contrai a doença de Crohn?
    A doença de Crohn afeta igualmente homens e mulheres e parece estar presente em algumas famílias. As pessoas afetadas pela doença podem ter um parente (normalmente, um irmão ou irmã) com algum tipo de Doença Inflamatória Intestinal. A doença ocorre em pessoas de todas as idades, mas começa habitualmente entre os 13 e os 30 anos. Os fumadores têm maior probabilidade de a contrair.
  • O que provoca a doença de Crohn?
    As causas da doença são desconhecidas, mas os investigadores consideram que ela resulta de uma reação anormal do sistema imunitário. Normalmente, o sistema imunitário protege as pessoas contra as infeções, identificando e destruindo bactérias, vírus ou outras substâncias estranhas potencialmente prejudiciais. Os investigadores julgam que, na doença de Crohn, o sistema imunitário ataca bactérias, alimentos e outras substâncias que são inofensivos ou até benéficos. Durante este processo, há uma concentração de glóbulos brancos no revestimento do intestino, produzindo uma inflamação crónica e dando origem a úlceras ou outras lesões.
    Os investigadores verificaram que as pessoas com doença de Crohn apresentam níveis elevados de uma proteína produzida pelo sistema imunitário, o chamado fator de necrose tumoral (FNT). No entanto, não se sabe se o aumento dos níveis de FNT e o funcionamento anormal do sistema imunitário são a causa ou o resultado da doença. Os estudos mostram que a inflamação que ocorre no trato gastrointestinal destes doentes envolve vários fatores: património genético, sistema imunitário e ambiente.
  • Quais são os sintomas da doença de Crohn?
    Os sintomas mais comuns da doença de Crohn são a dor abdominal, normalmente na região inferior direita do abdómen, e a diarreia. Podem também ocorrer sangramento retal, perda de peso e febre. A hemorragia pode ser grave e persistente, provocando anemia, isto é, uma redução na quantidade ou na dimensão dos glóbulos vermelhos do sangue, o que significa uma menor quantidade de oxigénio transportada para as células de todo o corpo. A gama e a gravidade dos sintomas variam.
  • Como se diagnostica a doença de Crohn?
    O médico pode diagnosticar a doença de Crohn, realizando um exame físico completo e solicitando diversos exames:
    • Análises de sangue para verificar a existência de uma eventual anemia provocada por hemorragia. Estas análises podem também revelar uma contagem elevada de glóbulos brancos, o que é sinal de inflamação ou infeção algures no corpo.
    • Análises às fezes para despistar outras causas de doenças gastrointestinais, como uma infeção. Estas análises permitem também verificar se há uma hemorragia no intestino.

    Os exames abaixo referidos são normalmente realizados no em regime ambulatório por um gastroenterologista, um médico especializado em doenças do aparelho digestivo, ou por um radiologista, um médico especializado em imagens médicas. No geral é preciso recorrer a uma combinação de diversos exames.
    • Colonoscopia e Sigmoidoscopia. Este exames são utilizados para ajudar a diagnosticar a doença de Crohn e determinar até que ponto o trato gastrointestinal foi afetado. A colonoscopia é o exame mais utilizado para diagnosticar especificamente a doença de Crohn. A colonoscopia é utilizada para visualizar o íleo, o reto e todo o cólon, enquanto a sigmoidoscopia flexível é usada para ver apenas o cólon menor e o reto.
    • Tomografia Axial Computorizada (TAC). Este exame não invasivo permite localizar com precisão as partes mais afetadas do intestino, definir zonas de aperto e detectar abcessos e fistulas. Não permite no entanto a execução de biopsias.
    • Clister Opaco e Radiografia do Intestino Delgado. São também exames não invasivos que permitem sobretudo definir com muita precisão as zonas de aperto.
  • Quais são as complicações associadas à doença de Crohn?
    A complicação mais comum da doença de Crohn é uma obstrução intestinal provocada pelo espessamento da parede intestinal devido a edema e tecido cicatricial. A doença pode também provocar úlceras que perfuram a zona afectada alastrando para os tecidos circundantes. Estas perfurações, chamadas fístulas, são uma complicação comum, especialmente nas zonas em volta do ânus e do reto, e infetam com frequência. A maior parte das fístulas pode ser tratada através de medicação, mas em alguns casos poderá ser necessário recorrer a cirurgia. Além das fístulas, podem surgir pequenos rasgões, chamados fissuras, no revestimento da membrana mucosa do ânus.
    Algumas complicações da doença de Crohn ocorrem porque a zona afetada do intestino não absorve os nutrientes de forma eficaz, resultando em deficiências de proteínas, calorias e vitaminas.
    As pessoas que sofrem desta doença têm frequentemente anemia, que pode ser provocada pela própria doença ou por uma deficiência em ferro, e pode, por sua vez, provocar fadiga. Nas crianças, a doença de Crohn pode afetar o crescimento normal, dando origem a situações de baixa estatura.
    Estes doentes, particularmente se forem tratados com medicamentos esteroides, podem desenvolver uma debilidade óssea chamada osteoporose.
    Outras complicações incluem artrite, problemas de pele, inflamações nos olhos ou na boca, cálculos renais ou biliares, ou doenças relacionadas com a função hepática.
  • Qual é o tratamento para a doença de Crohn?
    O tratamento pode incluir medicação, cirurgia, suplementos alimentares ou uma combinação destas opções. Os objetivos do tratamento são controlar a inflamação, corrigir deficiências nutricionais e aliviar os sintomas, como a dor abdominal, a diarreia e o sangramento retal. O tratamento depende da localização da doença, da sua gravidade e de eventuais complicações.
    O tratamento pode ajudar a controlar a doença e tornar menos frequentes os seus episódios, mas não existe cura. Estes doentes precisam, normalmente, de cuidados médicos de longa duração e de consultas médicas regulares para acompanhamento da doença. Algumas pessoas têm por vezes longos períodos livres de sintomas, mas não é possível prever quando isso poderá ocorrer ou quando os sintomas irão voltar. Esta variabilidade torna difícil ter a certeza se um tratamento foi eficaz.
    Apesar da necessidade de possíveis hospitalizações e de medicação durante longos períodos de tempo, a maior parte das pessoas afetadas pela doença de Crohn tem uma vida perfeitamente satisfatória, tanto a nível pessoal, como familiar e profissional.
  • Medicação
    Os medicamentos mais utilizados são os seguintes:

    • Anti-inflamatórios – como o nome indica, permitem controlar a inflamação. Os possíveis efeitos secundários incluem náuseas, vómitos, azia, diarreia e dor de cabeça.
    • Corticosteróides – permitem reduzir a inflamação. Podem provocar efeitos secundários graves, incluindo maior suscetibilidade às infeções e osteoporose.
    • Imunosupressores – bloqueiam a reação imunitária que contribui para a inflamação. Os efeitos secundários possíveis incluem náuseas, vómitos, diarreia e possível diminuição da resistência às infeções. Pode ser administrada uma combinação de corticosteróides e de imunossupressores, já que alguns estudos sugerem que estes últimos podem aumentar a eficácia dos primeiros.
    • Antibióticos – utilizados para tratar o sobrecrescimento bacteriano no intestino delgado provocado por estenose, fístulas ou cirurgia.
    • Antidiarreicos e medicamentos para reposição de fluidos. As cólicas abdominais e a diarreia são normalmente aliviadas quando a inflamação desaparece, mas pode revelar-se necessária medicação adicional. As pessoas com diarreia devem beber muitos líquidos para evitar a desidratação. Se a diarreia persistir, o médico deve ser imediatamente consultado para um eventual tratamento com fluidos por via intravenosa.
    • Podem ainda ser utilizadas terapias biológicas, que bloqueiam a resposta do organismo à inflamação. Alguns estudos sugerem que as terapias biológicas podem aumentar a eficácia dos medicamentos imunossupressores.
  • Cirurgia
    Cerca de dois terços das pessoas com doença de Crohn necessitarão de cirurgia em algum momento da sua vida. Esta é necessária para aliviar sintomas que não respondem a outras terapias ou para corrigir complicações como obstrução intestinal, perfuração, sangramento, ou abcesso (uma excrescência dolorosa contendo pus, provocada por uma infeção). A cirurgia para remover parte do intestino pode ajudar estes pacientes, mas não elimina a doença. É normalmente necessário proceder a mais do que uma operação, porque a inflamação tende a ressurgir na zona contígua àquela onde o intestino foi removido.
    Dado que a doença ressurge frequentemente após a cirurgia, o doente deve pesar cuidadosamente os respetivos riscos e benefícios, em comparação com outros tratamentos, procurando obter todas as informações possíveis.
  • Suplementos nutricionais
    O médico poderá recomendar a ingestão de suplementos nutricionais, especialmente no caso de crianças cujo crescimento foi afetado pela doença. São por vezes utilizadas fórmulas líquidas especiais de alto teor calórico. Num pequeno número de casos, poderá ser necessário recorrer à alimentação por via intravenosa durante um breve período de tempo. Este procedimento pode ser útil para doentes que necessitam temporariamente de um reforço alimentar e também para aqueles cujos intestinos necessitam de algum repouso ou não conseguem absorver nutrientes suficientes.
    O médico pode prescrever cálcio, vitamina D e outros medicamentos para prevenir ou tratar a osteoporose em pacientes que tomam corticoesteroides. Os suplementos vitamínicos só devem ser tomados por indicação médica.
  • Alimentação, dieta e nutrição?
    Não há nenhuma dieta especial que se tenha mostrado eficaz na prevenção ou tratamento da doença de Crohn, mas é importante que as pessoas que sofrem da doença sigam uma dieta nutritiva e evitem alimentos que agravem os sintomas. A doença está frequentemente associada a uma diminuição do apetite, o que pode afetar a capacidade dos doentes de receberem a dose diária de nutrientes necessária para obterem melhoras. Além disso, a doença está também associada a diarreia e consequente má absorção de nutrientes. Não são os alimentos a causa da doença de Crohn, mas certos alimentos, como cereais, especiarias, álcool e produtos lácteos podem aumentar a diarreia e as cólicas. O médico poderá recomendar um nutricionista para orientação sobre a dieta mais adequada.
  • O tabaco agrava a doença de Crohn?
    Os estudos têm demonstrado que os fumadores afetados pela doença de Crohn podem apresentar um agravamento dos sintomas e mais complicações associadas, tendo necessidade de doses mais elevadas de esteroides e outros medicamentos. São também mais suscetíveis de necessitar de cirurgia. Parar de fumar pode melhorar significativamente a progressão da doença e ajudar a reduzir o risco de complicações e de novos episódios. O médico poderá recomendar uma consulta de cessação tabágica.
  • O stress pode agravar a doença de Crohn?
    Os dados não apontam para o stress como causa da doença de Crohn. No entanto, as pessoas que sofrem da doença sentem, por vezes, um aumento de stress provocado pela convivência com uma doença crónica. Alguns doentes relatam a ocorrência de um episódio da doença quando passam por uma situação ou um acontecimento stressante. Para aqueles que consideram que existe uma correlação entre o nível de stress e o agravamento dos sintomas, o recurso a técnicas de relaxamento, uma alimentação cuidada e sono suficiente podem ajudá-los a sentir-se melhor. O médico poderá recomendar um especialista para ajudar a reduzir o stress.
  • A gravidez pode constituir um risco acrescido?
    As mulheres com a doença de Crohn podem engravidar e ter filhos, mas devem conversar com o seu médico antes de o fazerem. A maior parte das crianças filhas de mulheres com doença de Crohn não são afetadas pela doença.

A reter:

  • A doença de Crohn é uma doença que provoca inflamação, ou edema, e irritação de qualquer parte do tubo digestivo, também designado por trato gastrointestinal.
  • A doença de Crohn afeta igualmente homens e mulheres e parece estar presente em algumas famílias.
  • As causas da doença são desconhecidas, mas os investigadores acreditam que ela resulta de uma reação anormal do sistema imunitário.
  • Os sintomas mais comuns da doença de Crohn são a dor abdominal e a diarreia.
  • Um médico pode diagnosticar a doença de Crohn, realizando um exame físico e solicitando diversos exames: análises ao sangue e às fezes, e exames imagiológicos, como a tomografia axial computadorizada (TAC), a sigmoidoscopia flexível e a colonoscopia.
  • A complicação mais comum da doença de Crohn é uma obstrução intestinal provocada pelo espessamento da parede intestinal devido a edema e tecido cicatricial.
  • O tratamento pode incluir medicação, cirurgia, suplementos alimentares ou uma combinação destas opções.
  • Não há nenhuma dieta especial que se tenha mostrado eficaz na prevenção ou tratamento da doença de Crohn, mas é importante que as pessoas que sofrem da doença sigam uma dieta nutritiva e evitem alimentos que agravem os sintomas.
  • Alguns doentes relatam a ocorrência de um episódio da doença quando passam por uma situação ou um acontecimento stressante. O médico poderá recomendar um especialista para ajudar a reduzir o stress.
  • As mulheres com a doença de Crohn podem engravidar e ter filhos, mas devem conversar com o seu médico antes de o fazerem.


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