manuel rosário - gastro
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Intolerância à Lactose

A intolerância à lactose é a incapacidade ou insuficiente capacidade de digerir a lactose, um açúcar que se encontra no leite e nos produtos lácteos. A intolerância à lactose é provocada por insuficiência da enzima lactase, que é produzida pelas células que revestem o intestino delgado. A lactase decompõe a lactose em duas formas de açúcar mais simples, a glicose e a galactose, que são então absorvidas pela corrente sanguínea.
Nem todas as pessoas com insuficiência de lactase têm sintomas digestivos, mas as que os apresentam poderão sofrer de intolerância à lactose. A maioria das pessoas com intolerância à lactose consegue assimilar uma certa quantidade deste açúcar.
Por vezes, confunde-se intolerância à lactose com alergia ao leite de vaca. Esta última é uma reação do sistema imunitário do organismo a uma ou mais proteínas do leite e pode constituir risco de vida, mesmo quando apenas é ingerida uma pequena quantidade de leite ou derivados. A alergia ao leite surge normalmente no primeiro ano de vida, enquanto a intolerância à lactose ocorre com mais frequência na idade adulta.

  • O que provoca a Intolerância à Lactose?
    A melhor maneira de explicar as causas da intolerância à lactose é descrever como se desenvolve a insuficiência de lactase. A insuficiência de lactase primária demora algum tempo a desenvolver-se e surge normalmente depois dos 2 anos de idade, quando o corpo começa a produzir uma menor quantidade desta enzima. A maioria das crianças que têm insuficiência de lactase só apresenta sintomas de intolerância à lactose no final da adolescência ou até mesmo já na idade adulta.
    Foi identificada uma possível ligação genética à insuficiência de lactase primária: algumas pessoas herdam dos progenitores um gene que aumenta a probabilidade de desenvolvimento desta insuficiência. Esta descoberta poderá ser útil na conceção de futuros testes genéticos que identifiquem aqueles que correm o risco de vir a sofrer de intolerância à lactose.
    A insuficiência de lactase secundária resulta de danos provocados no intestino delgado, resultantes de doença diarreica grave, doença celíaca, doença de Crohn, ou quimioterapia. Este tipo de insuficiência pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum na infância.
  • Qual o risco de sofrer de Intolerância à Lactose?
    A intolerância à lactose é uma perturbação comum, cuja ocorrência é mais provável na idade adulta, apresentando maior incidência em adultos mais idosos. Algumas etnias ou raças parecem ser mais propensas, nomeadamente negros, asiáticos, índios, etc. É menos comum entre as populações do norte da Europa.
    Os recém-nascidos prematuros apresentam maior propensão a sofrer de insuficiência de lactase, dado que os níveis da enzima só aumentam a partir do terceiro trimestre de gravidez.
  • Quais são os Sintomas da Intolerância à Lactose?
    A intolerância à lactose pode provocar desconforto entre 30 minutos a 2 horas após a ingestão de leite e derivados. Os sintomas variam de moderados a graves, dependendo da quantidade de lactose ingerida e do grau de intolerância.
    Os sintomas mais comuns incluem:

    • dor abdominal
    • distensão (inchaço) abdominal
    • gases
    • diarreia
    • náuseas
  • Como se diagnostica a Intolerância à Lactose?
    A intolerância à lactose pode ser difícil de diagnosticar apenas com base nos sintomas digestivos, já que estes podem ser provocados por outras perturbações, como o Síndrome do Cólon Irritável (disponível na lista de temas). Depois de fazer a história clínica e proceder ao exame físico, o médico poderá começar por recomendar a eliminação do leite e laticínios da dieta durante um curto período, para verificar se os sintomas desaparecem. Poderá ainda ser necessário efetuar alguns testes adicionais.
    Utilizam-se dois testes para medir a digestão da lactose:

    Monitorização da quantidade de hidrogénio expirado - envolve a ingestão de uma bebida com elevada concentração de lactose e a subsequente análise da respiração a intervalos regulares para medir a quantidade de hidrogénio expirado. Normalmente, o ar expirado contém uma quantidade muito pequena de hidrogénio, mas a lactose não digerida produz níveis elevados deste elemento. Fumar ou consumir certos alimentos e medicamentos pode afetar a precisão dos resultados. Deve verificar junto do seu médico quais os alimentos e medicamentos que podem interferir com os resultados do teste.

    Teste da acidez das fezes - é utilizado em bebés e crianças pequenas. A lactose não digerida produz ácido láctico e outros ácidos gordos que podem ser detetados numa amostra de fezes. A não digestão da lactose pode estar também na origem da presença de glicose.
    Dado que a intolerância à lactose é pouco comum em crianças com menos de dois anos, o médico deve ter especial atenção ao determinar a causa dos sintomas digestivos de uma criança.
  • Como abordar a Intolerância à Lactose?
    Embora a capacidade de o organismo produzir lactase não possa ser alterada, os sintomas de intolerância à lactose podem ser controlados através de alterações na dieta. A maioria das pessoas com intolerância à lactose consegue assimilar uma certa quantidade de lactose. A introdução gradual de pequenas quantidades de leite ou produtos lácteos pode ajudar algumas pessoas a adaptarem-se a eles com menos sintomas. Frequentemente, a tolerância é maior quando estes produtos são ingeridos com as refeições.
    As alterações à dieta necessárias dependem da quantidade de lactose que se pode ingerir sem apresentar sintomas. Por exemplo, uma pessoa pode ter sintomas graves depois de beber um pequeno copo de leite, enquanto outra consegue beber um copo grande sem apresentar quaisquer sintomas. Noutros casos, é possível consumir sem problemas iogurte e certos queijos, mas não leite ou outros produtos lácteos.
    Recomenda-se que as pessoas com intolerância à lactose escolham produtos lácteos com níveis de lactose mais baixos do que o leite normal, como o iogurte e os queijos de pasta dura.
    O leite e os produtos lácteos isentos de lactose e com lactose reduzida, disponíveis na maioria das lojas, são idênticos ao leite normal, mas foi-lhes adicionada a enzima lactase. Se for ultrapasteurizado, o leite sem lactose tem um período de conservação igual ou superior ao do leite normal, mas poderá ter um sabor um pouco mais adocicado. Igualmente recomendados são o leite e outros produtos à base de soja.
    Se após estas alterações na dieta os sintomas persistirem, poderá ser receitada a ingestão da enzima lactase sob a forma de gotas ou comprimidos. A ingestão da enzima com o leite ou produtos lácteos poderá tornar estes alimentos mais facilmente tolerados por quem sofre deste síndrome.
    Os pais de crianças com intolerância à lactose devem seguir o plano nutricional recomendado pelo médico ou nutricionista.
  • Intolerância à Lactose e Ingestão de Cálcio
    O leite e os produtos lácteos são uma importante fonte de cálcio e outros nutrientes. O cálcio é essencial para o crescimento e reconstrução dos ossos em todas as idades. A carência de cálcio na dieta de crianças e adultos poderá traduzir-se posteriormente numa fragilidade óssea conhecida por osteoporose, na qual os ossos ficam mais sujeitos a fraturas.
    A quantidade de cálcio necessária à manutenção de uma boa saúde varia consoante a idade. A Tabela 1 apresenta as quantidades recomendadas.

    Cálcio: doses diárias recomendadas por faixa etária
    Faixa etária Quantidade diária recomendada (mg)
    0-6 meses 210 mg
    7-12 meses 270 mg
    1-3 anos 500 mg
    4-8 anos 800 mg
    19-50 anos 1,300 mg
    51-70+ anos 1,200 mg
    Fonte: Adaptado de Dietary Reference Intakes, 2004, Institute of Medicine, National Academy of Sciences (EUA)


    As mulheres grávidas ou a amamentar necessitam de entre 1000 a 1300 mg de cálcio por dia.

    A ingestão de uma quantidade suficiente de cálcio é importante para as pessoas que sofrem de intolerância à lactose, nos casos em que a ingestão de leite e produtos lácteos é restringida. Há muitos alimentos que podem fornecer o cálcio e outros nutrientes de que o corpo necessita, por exemplo, os peixes gordos, como o salmão e a sardinha, e os vegetais verde-escuros, como os espinafres.

    Em muitos casos de intolerância à lactose, o iogurte feito a partir de culturas de bactérias vivas (Lactobacillus) pode ser uma boa fonte de cálcio. Quando este tipo de iogurte entra no intestino, as culturas bacterianas transformam a lactose em ácido láctico, permitindo assim que o iogurte seja bem tolerado, ao contrário do que poderá acontecer com o iogurte normal.
    O cálcio só é absorvido e utilizado pelo organismo, quando existe uma quantidade suficiente de vitamina D. Em alguns casos, a intolerância à lactose deve-se apenas a uma insuficiência desta vitamina na dieta. A vitamina D está presente em alimentos como ovos e fígado, assim como no leite e iogurtes enriquecidos. A exposição regular ao sol também ajuda o corpo a absorvê-la naturalmente. Fale com o seu médico ou com um nutricionista para estabelecer uma dieta equilibrada, que forneça uma quantidade adequada de nutrientes, incluindo cálcio e vitamina D, evitando assim sintomas de carência ou intolerância. Ele determinará se são necessários suplementos de cálcio ou outros.
  • Que outros produtos contêm lactose?
    Há muitos produtos alimentares transformados aos quais foram adicionados leite e lacticínios, podendo assim conter pequenas quantidades de lactose:

    • pão e outros produtos de panificação
    • bolachas, biscoitos, flocos, panquecas e misturas pré-preparadas para confecionar estes produtos
    • cereais de pequeno almoço
    • puré de batata, sopas e bebidas instantâneas
    • batatas fritas, fritos de milho e produtos similares
    • preparados de carnes, como bacon, salsichas, etc.
    • margarina
    • molhos para salada
    • substitutos de refeição líquidos à base de leite em pó
    • proteínas em pó e em barra
    • doces diversos
    • coberturas para bolos não lácteas


    É aconselhável verificar os ingredientes nos rótulos dos alimentos para identificar possíveis fontes de lactose. Se encontrar alguma das palavras a seguir apresentadas, isso significa que o produto em questão contém lactose:

    • leite
    • lactose
    • soro de leite
    • coalhada
    • derivados de leite
    • matéria seca de leite
    • leite em pó desnatado


    A lactose é também utilizada em alguns medicamentos, incluindo pílulas anticoncecionais e medicamentos vendidos sem receita médica, como antiácidos e remédios para os gases. Este tipo de medicamentos provoca frequentemente sintomas em pessoas com intolerância grave à lactose.

A reter:

  • A intolerância à lactose é a incapacidade ou insuficiente capacidade de digerir a lactose, um açúcar que se encontra no leite e nos produtos lácteos.
  • A intolerância à lactose é provocada por uma insuficiência na enzima lactase, que é produzida pelas células que revestem o intestino delgado.
  • Nem todas as pessoas com insuficiência de lactase têm sintomas digestivos, mas as que os apresentam poderão sofrer de intolerância à lactose.
  • A maioria das pessoas com intolerância à lactose consegue assimilar uma certa quantidade deste açúcar.
  • As pessoas com intolerância à lactose podem sentir desconforto após a ingestão de leite e produtos lácteos. Os sintomas incluem dor abdominal, distensão (inchaço) abdominal, gases, diarreia e náuseas.
  • Os sintomas de intolerância à lactose podem ser controlados através de alterações na dieta.
  • A ingestão de uma quantidade suficiente de cálcio e vitamina D é uma preocupação no caso de intolerância à lactose em que é necessária a restrição do consumo de leite e produtos lácteos, mas a verdade é que há muitos alimentos que podem fornecer o cálcio e outros nutrientes de que o corpo necessita.
  • O seu médico ou nutricionista pode ajudar a estabelecer uma dieta equilibrada, que forneça uma quantidade adequada de nutrientes, incluindo cálcio e vitamina D, e minimize o desconforto. Ele indicará se é necessária a ingestão de cálcio ou outros suplementos dietéticos.
  • Há muitos produtos alimentares transformados aos quais são adicionados leite e lacticínios, pelo que em caso de intolerância à lactose deve verificar os ingredientes nos rótulos para identificar possíveis fontes de lactose.


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