manuel rosário - gastro
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Helicobacter e Úlcera Péptica

Uma úlcera péptica é uma ferida no revestimento do estômago ou do duodeno, a parte inicial do intestino delgado. As úlceras pépticas distinguem-se de acordo com a sua localização: úlcera gástrica (no estômago) e úlcera duodenal (no duodeno). É possível ter ambas em simultâneo e é também possível desenvolver úlceras pépticas mais de uma vez na vida. São uma afeção comum, que atinge milhões de pessoas em todo o mundo.

  • O que provoca uma Úlcera Péptica?
    A bactéria designada por Helicobacter pylori (H. pylori) é uma das principais causas de úlcera péptica. A ingestão de anti-inflamatórios não esteroides (AINE), como a aspirina e o ibuprofeno, é outra causa comum.
    As úlceras pépticas não são provocadas por stress ou por comida condimentada, embora estes dois fatores possam estar na origem de um agravamento dos sintomas. Fumar e beber álcool podem também agravar os sintomas e impedir a cura.
  • O que é a Helicobacter Pilory?
    A H. Pylori é uma bactéria, ou seja, um microrganismo susceptível de provocar uma infeção. A infeção por H. Pylori é comum, sobretudo nos países em desenvolvimento, e, frequentemente, tem início na infância. Os sintomas não se manifestam, normalmente, até à idade adulta, embora a maioria das pessoas nunca chegue a ter sintomas.
    Esta bactéria é responsável por mais de metade das úlceras pépticas que ocorrem em todo o mundo. A bactéria atua danificando o revestimento mucoso que protege o estômago e o duodeno e permitindo assim que o poderoso ácido do estômago atinja o revestimento mais sensível que se encontra por baixo dessa camada. Em conjunto, o ácido do estômago e a H. Pylori irritam a mucosa do estômago ou do duodeno e provocam a úlcera.
    No entanto, a maioria das pessoas infetadas com a H. Pylori nunca desenvolve úlceras. Desconhece-se a razão pela qual a bactéria provoca úlceras em algumas pessoas e não noutras. Muito provavelmente, o desenvolvimento de úlceras depende das características da pessoa infetada, do tipo ou estirpe da bactéria presente e, possivelmente, de outros fatores que os investigadores ainda não descobriram.
  • Como se propaga a Hlicobacter Pilory?
    Os investigadores não têm a certeza sobre a transmissão da H. Pylori, embora acreditem que ela possa ocorrer através de alimentos ou água contaminados. As pessoas podem apanhar a bactéria através de alimentos que não foram bem lavados ou adequadamente cozinhados, ou através de água potável proveniente de fontes contaminadas.
    Outros estudos exploram a maneira como a infeção por H. Pylori se propaga de uma pessoa infetada para uma pessoa não infetada, sugerindo que o contacto com as fezes ou o vómito de uma pessoa infetada possa propagar a doença. A bactéria foi também encontrada na saliva de algumas pessoas infetadas, o que significa que poderá ser transmitida através de contacto direto com a saliva.
  • Quais são os sintomas de uma Úlcera Péptica?
    O desconforto abdominal é o sintoma mais comum tanto da úlcera duodenal como da úlcera gástrica, podendo localizar-se entre o umbigo e o esterno. Geralmente,
    • consiste numa dor ou numa sensação de ardor;
    • ocorre quando o estômago está vazio – entre as refeições ou durante a noite;
    • pode ser temporariamente aliviado pela ingestão de alimentos, no caso das úlceras duodenais, ou de antiácidos, em ambos os tipos de úlceras;
    • pode durar alguns minutos ou algumas horas;
    • ocorre intermitentemente ao longo de vários dias ou semanas.

    Outros sintomas incluem:
    • perda de peso;
    • falta de apetite;
    • eructação (arrotos);
    • náuseas;
    • vómitos.

    Algumas pessoas têm apenas sintomas ligeiros ou não apresentam mesmo qualquer sintoma.
  • Sintomas que envolvem emergência
    Se tiver qualquer um dos seguintes sintomas, deve consultar imediatamente o seu médico:
    • súbita dor de estômago aguda, persistente e intensa;
    • fezes escuras ou com sangue;
    • vómito com sangue ou semelhante a borras de café.

    Estes sintomas de alarme podem ser indicadores de um problema grave, como, por exemplo:
    • sangramento – quando o ácido ou a úlcera péptica rompe um vaso sanguíneo;
    • perfuração – quando a úlcera péptica provoca um ferimento que atravessa por completo a parede do estômago ou do duodeno;
    • obstrução – quando a úlcera péptica impede a passagem dos alimentos que tentam sair do estômago.
  • Como se diagnostica uma úlcera induzida por Helicobacter Pylori?
    TÉCNICAS NÃO-INVASIVAS
    Se um doente tiver sintomas de úlcera péptica, o médico começará por lhe perguntar se toma habitualmente anti-inflamatórios não esteroides (AINE), sujeitos ou não a receita médica. Em caso afirmativo, será convidado a deixar de o fazer, a reduzir a dose ou a mudar para outro tipo de medicamento.
    Em seguida, o médico solicitará exames para verificar a presença ou não da bactéria H. Pylori. Os exames são importantes, porque as úlceras induzidas pela H. Pylori são tratadas de forma diferente das úlceras provocadas por AINE.
    Os médicos recorrem a um de três exames simples e não invasivos para detectar a H. Pylori: ao ar expirado, às fezes, ou ao sangue. Os dois primeiros permitem detetar a presença da bactéria com maior rigor do que a análise ao sangue, pelo que são normalmente mais utilizados. Qualquer dos exames a seguir descritos é facilmente executado, normalmente em regime ambulatório, por exemplo, num consultório médico ou num laboratório.
    Teste respiratório da ureia – CUBT: o doente ingere uma cápsula, um líquido ou uma pasta contendo ureia “marcada” com um átomo de carbono especial. Passados alguns minutos, o doente expira para dentro de um recipiente, exalando dióxido de carbono. Se o ar expirado contiver o átomo de carbono especial, a H. Pylori estará presente, já que esta bactéria contém grandes quantidades de urease, uma substância química que decompõe a ureia em dióxido de carbono e amónia.
    Teste do antigénio fecal: é feita uma pesquisa de antigénios de H. Pylori numa amostra de fezes.
    Análise de sangue: é feita uma pesquisa de anticorpos de H. Pylori numa amostra de sangue. (Os anticorpos são substâncias que o organismo produz para combater substâncias invasoras nocivas, designadas por antigénios, tais como a bactéria H. Pylori). Esta técnica não distingue bem uma infecção ativa de uma infecção já curada e por isso só se usa em estudos de epidemiologia.

    TÉCNICAS INVASIVAS
    Se um doente tiver sintomas de alarme, o médico prescreverá uma Endoscopia Digestiva Alta ou uma radiografia do estômago. Estes exames são também recomendados para doentes que têm sintomas de úlcera péptica pela primeira vez por volta dos 50 anos de idade. Normalmente realizados em regime ambulatório, ambos os procedimentos são indolores e permitem ao médico ver o interior do estômago e do duodeno do paciente.
    Se a úlcera sangrar, o médico poderá utilizar o endoscópio para injetar medicamentos que ajudem a coagular o sangue ou para orientar uma sonda térmica que queime o tecido, estacando assim o sangramento (um processo designado por cauterização).
    Para efetuar uma radiografia gastrointestinal alta, o doente tem de ingerir uma solução branca de bário, que torna o esófago, o estômago e o duodeno, assim como quaisquer úlceras, visíveis aos Raios X. Para este procedimento, não é necessário recorrer a sedação.
  • Qual o tratamento de uma úlcera induzida por Helicobacter Pylori?
    As úlceras pépticas provocadas por H. Pylori são tratadas com medicamentos que eliminam a bactéria, reduzem a acidez gástrica e protegem o revestimento do estômago e do duodeno.
    Os antibióticos são utilizados para eliminar a H. Pylori. Os regimes com estes medicamentos podem variar, dado que algumas estirpes da bactéria se tornaram resistentes a certos antibióticos – o que significa que um antibiótico que em tempos a eliminava deixou de ser eficaz. Os médicos acompanham de perto a investigação sobre tratamentos com antibióticos para esta infecção, para se manterem informados sobre a melhor estratégia de tratamento para cada estirpe.
    Normalmente, os tratamentos recomendados para a úlcera provocada por H. Pylori envolvem terapias combinadas de antibióticos com medicamentos que diminuem a produção de ácido no estômago (os inibidores da bomba de protões).
    Estas terapias combinadas podem provocar náuseas e outros efeitos secundários, incluindo:
    • perturbações gástricas;
    • diarreia;
    • dor de cabeça;
    • travo metálico;
    • língua ou fezes escuras;
    • rubor ao ingerir álcool;
    • sensibilidade ao sol.

    Os doentes devem comunicar quaisquer efeitos secundários adversos ao seu médico, que poderá receitar outros medicamentos para eliminar a bactéria e curar a úlcera.
    Embora os antibióticos curem 80 a 90 por cento das úlceras provocadas por H. Pylori, a erradicação da bactéria poderá ser difícil. Os doentes devem continuar a tomar todos os medicamentos exatamente como prescrito, mesmo quando a dor associada tiver desaparecido.
    Pelo menos oito semanas após o tratamento, o médico fará um exame à respiração para verificar se a infeção ficou completamente curada. Após o tratamento, as análises ao sangue já não são adequadas, porque poderão ser positivas para a H. Pylori, mesmo que a bactéria tenha sido eliminada.
    Se a infeção persistir, as úlceras poderão voltar a ocorrer ou, mais raramente, poderá desenvolver-se um carcinoma do estômago. Assim, alguns doentes terão de fazer mais de um tratamento para erradicar totalmente a bactéria. Neste segundo tratamento, o médico prescreverá antibióticos diferentes da primeira vez.
  • Os antiácidos, ou o leite, podem ajudar a curar uma Úlcera Péptica?
    Os antiácidos podem aliviar temporariamente a dor provocada pela úlcera, mas não eliminarão a bactéria. Os doentes que seguem um tratamento para a úlcera provocada por H. Pylori devem consultar o seu médico antes de tomarem antiácidos. Alguns dos antibióticos utilizados para eliminar a H. Pylori poderão ser menos eficazes quando combinados com um antiácido.
    Acreditava-se que beber leite ajudava a curar as úlceras pépticas, mas sabe-se hoje que, embora o leite possa produzir melhoras temporárias, provoca também um aumento da acidez do estômago, o que pode agravar a doença. Os doentes devem conversar com o seu médico sobre a ingestão de leite durante o tratamento.
  • A infeção por Helicobacter Pylori pode ser evitada?
    Não se sabe ao certo como se propaga a H. Pylori, por isso a sua prevenção é difícil. Os investigadores estão a tentar desenvolver uma vacina para prevenir e até mesmo curar a infeção. Para ajudar na prevenção, os médicos aconselham a:
    • lavar as mãos com água e sabão depois de ir à casa de banho e antes de comer;
    • ingerir alimentos bem lavados e preparados adequadamente;
    • beber água de fontes limpas e seguras.

A reter:

  • A úlcera péptica é uma ferida no revestimento do estômago ou duodeno.
  • A maioria das úlceras pépticas são provocadas pela bactéria Helicobacter pylori. O uso de AINE, como a aspirina e o ibuprofeno, é outra causa comum.
  • Nem o stress nem a comida condimentada provocam úlceras. No entanto, fumar ou beber álcool podem agravar uma úlcera e impedir a sua cura.
  • O desconforto abdominal provocado pela úlcera péptica
    • consiste numa dor ou numa sensação de ardor;
    • ocorre quando o estômago está vazio – entre as refeições ou durante a noite;
    • pode ser temporariamente aliviado pela ingestão de alimentos, no caso das úlceras duodenais, ou de antiácidos, em ambos os tipos de úlceras;
    • pode durar alguns minutos ou algumas horas;
    • ocorre intermitentemente ao longo de vários dias ou semanas.
  • O tratamento mais eficaz para a úlcera péptica induzida por H. pylori consiste numa combinação de antibióticos e medicamentos redutores da acidez.
  • É necessário fazer exames após o tratamento para ter certeza de que a infeção por H. pylori foi erradicada.
  • Para ajudar a prevenir uma infeção por H. pylori, deve-se:
    • lavar as mãos depois de ir à casa de banho e antes de comer;
    • ingerir alimentos adequadamente preparados;
    • beber água de fontes limpas e seguras.


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