manuel rosário - gastro
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Sensibilidade ao Glúten

Na última década tem havido um impressionante aumento na popularidade da dieta sem glúten. Neste momento é o hábito alimentar mais na moda nos Estados Unidos e na Europa. De acordo com estatísticas recentes, cerca de 100 milhões de americanos estão a consumir produtos sem glúten.
De acordo com a abordagem da medicina tradicional a dieta sem glúten apenas beneficia indivíduos com doença celíaca (apenas cerca de 1% da população).
No entanto, para além de um fenómeno de moda, existem de facto problemas médicos relacionados com a ingestão de glúten. Recentemente, a sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC), adquiriu uma presença forte na literatura médica (o primeiro caso foi descrito em 1978).
Neste momento há um debate em curso sobre a adequação da dieta sem glúten para as pessoas sem doença celíaca. Embora seja claro que existe um componente de moda na popularidade da dieta sem glúten há também evidência incontestável e crescente que aponta para a SGNC como uma entidade clínica real.

  • O que é o Glúten?
    O glúten é a principal proteína de armazenamento no trigo, cevada e centeio. O trigo é cultura mais amplamente difundida em todo o mundo, com mais de 25.000 variedades. Esta popularidade explica-se pela simplicidade de cultivo em diferentes climas, alto rendimento e bom valor nutricional. Além disso, as propriedades funcionais das proteínas do glúten levaram à sua adição a muitos alimentos e cosméticos.
  • Que doenças estão associadas ao Glúten?
    As doenças relacionadas com glúten são ativadas pela ingestão de cereais (trigo, cevada e centeio) por pessoas com uma predisposição genética e/ou imunológica.
    As duas entidades clínicas bem definidas em relação à ingestão de glúten são: a alergia ao trigo e a doença celíaca. Ambas são mediadas pelo sistema imune adaptativo

    1. Na alergia ao trigo o mecanismo envolve as IgE como em todas as outras alergias.
    2. A doença celíaca, por outro lado tem as características de uma doença autoimune.

    Além da doença celíaca e da alergia ao trigo, há casos de reações ao glúten que não envolvem nem mecanismos alérgicos nem mecanismos autoimunes.
    Estas reações são geralmente denominadas por sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC) ou simplesmente sensibilidade ao glúten.
    Toda a evidência atual indica que no caso da SGNC é o sistema imune inato que está envolvido.
  • Quais são os sintomas do SGNC?
    Os sintomas de SGNC geralmente ocorrem dentro de horas ou dias após a ingestão de glúten, e desaparecem com alguma rapidez quando o glúten é eliminado da dieta.
    A SGNC produz uma combinação de sintomas intestinais e extra intestinais.
    Os sintomas intestinais assemelham-se muito ao síndrome do colón irritável com cólicas abdominais, gases, distensão e hábitos intestinais irregulares. Por esta razão, não é fácil distinguir a SGNC do síndrome do colón irritável.
    O diagnóstico diferencial é facilitado nos pacientes que também têm sintomas extraintestinais, tais como dor de cabeça ou enxaqueca, mente enevoada, fadiga crónica, dores articulares e musculares, formigueiros nas extremidades, dormência nas pernas ou braços. Eczema, anemia e depressão também podem fazer parte do quadro bem como problemas autoimunes.
  • Qual é a diferença entre intolerâncias alimentares e sensibilidades alimentares?
    • A intolerância alimentar ocorre quando o corpo não tem um determinado enzima para digerir os nutrientes. Os sintomas gastro intestinais são secundários à fermentação dos açúcares pelas bactérias do colón, levando à produção de gases, distensão abdominal, cólicas e hábitos intestinais irregulares. O exemplo mais comum é a intolerância à lactose.
    • As sensibilidades alimentares são reações mediadas por imunidade a alguns nutrientes envolvendo o trato gastrointestinal. Podem também envolver sintomas extra intestinais como por exemplo urticária e falta de ar. Nem sempre ocorrem com o mesmo padrão. Exemplos comuns incluem reações alérgicas a frutos e mariscos.
      No grupo das sensibilidades podemos também incluir a doença celíaca e a SGNC embora envolvam mecanismos diferentes das alergias habituais.
  • Como fazer o diagnóstico?
    Neste momento, além de alguns testes que apenas são usados em investigação, a SGNC é um diagnóstico de exclusão baseado nos seguintes critérios:

    1. É imprescindível excluir a doença celíaca e alergia ao trigo com analises de sangue simples.

    2. Os sintomas intestinais e/ou extraintestinais têm que melhorar substancialmente ou desaparecer com uma dieta sem glúten.
  • que tratamentos estão disponíveis?
    Neste momento, o único tratamento disponível consiste em evitar todos os alimentos contendo glúten.

A reter:

  • SGNC é uma entidade clínica sem duvida real, mas ainda mal definida.
  • Pode causar sintomas no trato gastrointestinal.
  • Pode também causar dores de cabeça, enxaquecas, mente enevoada, fadiga crónica, dores articulares e musculares, sensação de formigueiro das extremidades, dormência na perna ou no braço. Eczema, anemia, depressão e problemas autoimunes (tiroide) estão também associados à SGNC.
  • O diagnóstico não é direto, são necessários analises de sangue e um período de dieta sem glúten.


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