manuel rosário - gastro
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Pedras na Vesícula

Os cálculos biliares (litíase biliar ou pedras na vesícula) são partículas sólidas que se desenvolvem dentro da vesícula biliar. A vesícula biliar é um órgão pequeno, em forma de pera localizado na parte superior do abdómen do lado direito.
A dimensão dos cálculos varia no geral do grão de areia a uma azeitona grande. A vesícula biliar pode desenvolver um único grande de cálculo biliar ou centenas de pedras pequenas. Os cálculos podem causar dores forts no abdómen superior direito quando bloqueiam as vias biliares.

  • O que são as vias biliares?
    O fígado produz a bílis, um líquido que transporta toxinas e resíduos para fora do corpo. Outra função da bílis é ajudar a digerir gorduras e absorver vitaminas. A bílis é constituída principalmente por colesterol, sais biliares (substâncias que ajudam a dissolver o colesterol), e bilirrubina.
    A bilirrubina é um resíduo do metabolismo da hemoglobina.
    As vias biliares são compostas pelo pelos dois canais que drenam a bílis do fígado e confluem num só canal o colédoco. O colédoco despeja a bílis na segunda porção do duodeno. A vesícula está ligada a um curto canal lateral (o canal cístico) que se une ao colédoco e a sua função é armazenar a bílis durante os períodos entre as refeições.
  • O que origina os cálculos biliares?
    Os cálculos biliares são devidos a desequilíbrios na composição da bílis. Excesso de colesterol, excesso de bilirrubina, ou falta de sais biliares suficientes são causas frequentes. Podem também formar-se se a vesícula biliar não esvazia completamente ou com a frequência suficiente.

    Os dois tipos de cálculos biliares são:
    • pedras de colesterol, geralmente de cor verde-amarelada. Mais de 80 por cento de cálculos biliares são de colesterol.
    • pedras de pigmentos, de cor escura, são feitas de bilirrubina.
  • Quem está em risco de ter cálculos biliares?
    Certas pessoas têm um risco mais elevado de desenvolver cálculos biliares:
    • As mulheres são mais propensas a desenvolver cálculos biliares do que os homens. Pensa-se que os estrogénios podem aumentar os níveis de colesterol na bílis e diminuir as contracções da vesícula biliar.
    • Pessoas com mais de 40 anos de idade são mais propensos a desenvolver cálculos biliares do que as pessoas mais jovens.
    • Pessoas com história familiar de cálculos biliares têm um risco mais elevado.

    Outros factores que afectam o risco de uma pessoa desenvolver cálculos biliares de colesterol são:
    • As pessoas obesas, especialmente as mulheres, têm um risco acrescido de ter cálculos biliares. A obesidade aumenta a quantidade de colesterol na bílis.
    • Dietas e cirurgia bariátrica levam a uma perda de peso rápida e aumentam do risco de cálculos biliares. O fígado ao metabolizar as gorduras vai excretar mais colesterol na bílis e o limite de solubilidade dos sais biliares pode ser excedido. Por outro lado o jejum prolongado também diminui marcadamente o esvaziamento da vesícula.
    • Regimes alimentares ricos em calorias e hidratos de carbono refinados, pobres em fibras aumentam o risco de cálculos biliares.
    • As doenças que afectam absorção normal de nutrientes, tais como a doença de Crohn, estão associados com cálculos biliares.
    • A diabetes tipo 2 está geralmente associada à obesidade e aumenta a probabilidade de desenvolver pedras na vesícula.

    Algumas patologias que favorecem a formação de cálculos biliares de pigmento são:
    • Cirrose do fígado
    • Infecções nas vias biliares
    • Anemias hemolíticas – neste caso devido à destruição constante dos glóbulos vermelhos os produtos da degradação da hemoglobina aumentam muito e acabam por precipitar na vesícula.
  • Quais são os sintomas e as complicações da litíase biliar?
    A maioria das pessoas com cálculos biliares não têm quaisquer sintomas.
    Se cálculos biliares bloquearem o canal da vesícula (canal cístico) ou o colédoco vai haver um aumento de pressão na vesícula biliar e colédoco causando dores fortes a chamada cólica biliar . A dor geralmente ocorre à noite, dura de uma a vários horas está situada na parte de cima do abdómen do lado direito e está associada a refeições pesadas. Um sintoma frequente são também náuseas e vómitos.
    Se o calculo passar espontaneamente para o duodeno os sintomas desaparecem. No entanto, se as vias biliares permanecem bloqueadas por mais do que algumas horas, podem ocorrer complicações graves. As complicações mais graves incluem a infecção e a obstrução do canal pancreático com pancreatite. Estas duas complicações são extremamente graves e põe em risco a vida do paciente.
    Sintomas causados por cálculos biliares podem ser semelhantes aos de outras patologias tais como a apendicite, úlceras, pancreatite, e enfarte do miocárdio.
  • Se suspeita que está a ter uma cólica biliar que deve fazer?
    As pessoas que acham que estão uma cólica biliar devem falar com o seu médico de imediato e dirigir-se a um serviço de urgência. Embora a maioria das cólicas biliares resolva espontaneamente é importante um diagnóstico preciso. De uma maneira geral a probabilidade de repetição no futuro é elevada.
    Sintomas que sugerem gravidade incluem:
    • dor abdominal que dura mais de cinco horas
    • náuseas e vómitos persistentes
    • febre, mesmo que pouco elevada ou apenas calafrios
    • cor amarelada da pele ou da parte branca dos olhos, chamada icterícia
    • urina cor de chá escuro e fezes claras

    Estes sintomas podem ser sinais de infecção grave, inflamação da vesícula ou obstrução persistente das vias biliares e pâncreas, o internamento hospitalar imediato está aconselhado.
  • Como são diagnosticados os cálculos biliares?
    O médico vai pedir uma ecotomogafia abdominal para diagnosticar cálculos biliares.
    • Ecotomografia abdominal – através de uma pequena sonda que o médico faz deslizar sobre o abdómen, um gerador de ultrassons envia ondas sonoras para o fígado vesícula e pâncreas. As ondas sonoras embatem nos orgãos e os respectivos ecos são analisados por um computador, criando uma imagem no ecrã. Se houver cálculos biliares presentes, serão detectados com precisão.

    Em circunstâncias particulares pode ser importante recorrer a outros exames.
    • Tomografia axial computadorizada (TAC) – A TAC é uma técnica não invasiva de raios X que produz imagens tridimensionais do corpo. O paciente fica deitado numa marquesa que desliza através de um grande anel. A TAC permite diagnosticar cálculos biliares mostrar a obstrução da vesícula ou colédoco e avaliar a extensão dos danos provocados no pâncreas. No entanto a precisão em diagnosticar cálculos na vesícula é menor do que a da ecotomografia abdominal.
    • Colangiopancretatografia por ressonância magnética – A CPRM utiliza a ressonância magnética, uma técnica sem radiações, capaz de produzir imagens de secção transversal de partes do corpo. O paciente apenas tem que ficar deitado numa marquesa que se vai deslocando dentro de um grande anel. É injectado contraste no paciente, o que permite uma melhor visualização dos canais do pâncreas, colédoco e vesícula biliar. É particularmente útil para diagnosticar cálculos presentes no colédoco (um local que a ecotomografia abdominal não visualiza bem)
    • Ecoendoscopia – Neste caso, o médico insere um endoscópio flexível através da boca, até ao estômago e duodeno. Na extremidade do endoscópio, existe um gerador de ultra-sons que envia ondas sonoras para o pâncreas. As ondas sonoras embatem no pâncreas, na vesícula biliar, no colédoco e outros órgãos e os respetivos ecos são analisados por um computador, criando uma imagem no ecrã. A vantagem principal desta técnica é a proximidade entre a sonda emissora de ultra-sons e o colédoco (apenas alguns centímetros), o que permite diagnosticar cálculos neste local com muita precisão.
    • Colangiopancreatografia Endoscópica Retrógrada (CPRE) – A CPRE é uma técnica especializada utilizada para visualizar o pâncreas, vesícula biliar e ductos biliares e tratar as complicações da pancreatite, cálculos biliares e estreitamento ou obstrução dos ductos biliares ou canal pancreático. O médico insere um endoscópio flexível até ao duodeno e injecta um contraste nos ductos biliares, vesícula e canal pancreático. Depois, são feitas radiografias em que se podem ver com grande detalhe as anomalias presentes. Para além do diagnóstico, podem ser feitas intervenções terapêuticas, como extracção de cálculos ou colocação de pequenos tubos para drenagem das secreções. A CPRE pode ser um exame extremamente útil, mas está sujeita a complicações (pancreatite grave, infecção, perfuração intestinal e hemorragia), pelo que, após a realização de uma CPRE, há sempre um período de observação até o paciente poder ter alta. A CPRE é usada geralmente quando há uma suspeita muito forte da presença de cálculos no colédoco.

    São também usadas analises de sangue para procurar sinais de infecção, alterações das provas de função hepática ou lesão pancreática.
  • Como são tratados os cálculos biliares?
    Se os cálculos biliares não causam sintomas não está indicado tratamento. Contudo após um primeiro ataque de cólica biliar é estatisticamente muito provável que haja uma repetição. É por esta razão que após o primeiro ataque de cólica biliar está no geral indicada cirurgia para remover a vesícula biliar. Se o paciente não pode ser submetido a uma intervenção cirúrgica existem tratamentos não-cirúrgicos que podem ser usados para dissolver os cálculos biliares de colesterol. Pode também ser utilizada a CPRE para remover pedras alojadas no colédoco nas em pessoas que não podem ser submetidos a cirurgia. A CPRE é também usada para remover pedras no colédoco nos pacientes que estão prestes a fazer uma cirurgia para remoção da vesícula biliar neste caso a intenção é tornar a operação mais segura e mais rápida.
  • Cirurgia
    A intervenção cirúrgica para remover a vesícula biliar, chama-se colecistectomia, é uma das operações mais comuns realizadas nos adultos.
    A vesícula biliar não é um órgão essencial, o que significa que uma pessoa pode viver normalmente sem vesícula. Uma vez removida vesícula biliar, a bílis que sai do fígado através do colédoco vai directamente para o duodeno, em vez de ser armazenada na vesícula biliar.
    Existem essencialmente dois tipos de colecistectomia:
    • Colecistectomia laparoscópica – Na colecistectomia laparoscópica, após anestesia geral, o cirurgião faz 3 pequenas incisões no abdômen (com cerca de 2cm) e insere um laparoscópio (um tubo fino com uma pequena câmara de vídeo na extremidade que envia imagens de alta resolução para um monitor). Através de outras duas pequenas incisões o cirurgião utiliza vários instrumentos para separar cuidadosamente a vesícula biliar do fígado, vias biliares, e outras estruturas. No final a vesícula biliar é extraída através de uma das incisões. A maioria das colecistectomias de hoje em dia são feitas com esta técnica. O tempo de internamento é no geral muito curto com pouco desconforto. A actividade física normal pode ser retomada após um intervalo de tempo relativamente curto.
    • Colecistectomia clássica – Quando a vesícula biliar está muito inflamada, ou se existem cicatrizes de outras operações opta-se geralmente por realizar uma incisão no abdómen com cerca de 25cm através da qual o cirurgião remove a vesícula.
      O internamento é geralmente cerca de 7 a 10 dias. Há geralmente necessidade de mais medicação para o controle da dor. A actividade física no geral pode ser retomada cerca de um mês depois.

    Após a colecistectomia há uma pequena percentagem de pacientes que, por um período relativamente breve, têm fezes moles e dejeções com mais frequência. Isto acontece porque a bílis à medida que é produzida no fígado já não é armazenada na vesícula e é despejada diretamente no duodeno.
    As complicações da cirurgia da vesícula biliar são raras, sendo a mais comum a lesão de vias biliares (em menos de 1 por cento das colecistectomias). Uma ou mais operações adicionais podem ser necessários para reparar os ductos biliares.
  • Tratamentos não cirúrgicos
    São apenas usados quando o paciente tem cálculos de colesterol e não pode ser submetido a uma intervenção cirúrgica. A limitação principal destes tratamentos é que como a vesícula não é removida a possibilidade de haver uma recidiva dos cálculos é grande.
    • Terapêutica com ácido ursodesoxicólico é um medicamento que contêm ácidos biliares que podem dissolver cálculos biliares. É eficaz para pequenas pedras de colesterol. Podem ser necessários meses ou anos de tratamento para dissolver todas as pedras. Ao parar o tratamento a probabilidade de recidiva é alta. Este tratamento é usado com frequência, quando se usam dietas de baixo teor calórico e cirurgia bariatrica em que há uma perda de peso muito brusca, para prevenir a formação de cálculos.
    • Litotripsia – Um aparelho gera ondas de choque que passam através do corpo para fragmentar os cálculos. Os pequenos fragmentos passam para o duodeno através do colédoco. Este método pode ser utilizado conjuntamente com o ácido ursodesoxicólico

A reter:

  • Os cálculos biliares são partículas sólidas que se desenvolvem e vão agregando dentro da vesícula biliar.
  • Desequilíbrios na concentração das várias substâncias que compõem a bílis podem causar cálculos biliares. Excesso de colesterol, excesso de bilirrubina e insuficiência de sais biliares são causas frequentes.
  • Mulheres, pessoas com mais de 40 anos de idade, e pessoas com uma história familiar de cálculos biliares têm um maior risco de pedras na vesícula.
  • A maioria das pessoas com cálculos biliares não têm sintomas.
  • Se os cálculos bloquearem as vias biliares vai desencadear-se uma cólica biliar com dores na parte alta do abdómen e náuseas.
  • As cólicas biliares ocorrem geralmente a seguir a refeições pesadas, à noite e podem simular outras patologias.
  • Se os cálculos biliares não causarem sintomas, geralmente nenhum tratamento está indicado. Após o primeiro ataque de cólica biliar em geral está recomendado tratamento cirúrgico.
  • O tratamento habitual para cálculos biliares é a cirurgia para remover a vesícula biliar (colecistectomia). Se o paciente não pode ser submetido a cirurgia podem ser usados tratamentos para tentar dissolver os cálculos biliares de colesterol. Se os cálculos estão alojados no colédoco a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) é importante na resolução do problema.
  • A vesícula biliar não é um órgão essencial, o que significa que uma pessoa pode viver normalmente sem vesícula. Após a remoção da vesícula a bílis flui directamente para o duodeno através do colédoco.


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