manuel rosário - gastro
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Pancreatite

A pancreatite é uma inflamação do pâncreas, podendo ser aguda ou crónica. Qualquer das formas é grave e pode provocar complicações. Em casos graves, podem ocorrer hemorragias, infeções e destruição permanente dos tecidos. Ambas as formas de pancreatite ocorrem com mais frequência nos homens.

  • Quais as funções do pâncreas?
    O pâncreas é uma glândula grande situada atrás do estômago, perto do duodeno (a primeira parte do intestino delgado). O pâncreas fabrica enzimas que são depois despejadas no duodeno e se vão juntar à bílis produzida pelo fígado. São as enzimas produzidas pelo pâncreas e a bílis (que tem uma ação detergente) que permitem a digestão das proteínas, hidratos de carbono e gorduras.
    O pâncreas também produz as hormonas insulina e glucagon, que são libertadas para a corrente sanguínea e ajudam o corpo a regular a glicose (a principal fonte de energia).
    Normalmente, as enzimas digestivas fabricadas pelo pâncreas só são ativadas quando atingem intestino delgado. Quando o pâncreas está inflamado, o controlo das enzimas é perturbado e estas podem atacar e destruir o próprio pâncreas.
  • O que é a pancreatite aguda?
    A pancreatite aguda é uma inflamação do pâncreas que ocorre de repente e que se resolve geralmente em poucos dias, com tratamento. A pancreatite aguda pode ser uma doença grave que põe em risco a vida. Todos os anos, vários milhares de pessoas são internadas com pancreatite aguda. A causa mais comum da pancreatite aguda é a passagem de cálculos biliares da vesícula pelo colédoco (o canal que liga a vesícula ao duodeno), entupindo o canal pancreático. O consumo excessivo de álcool é também uma causa comum. A pancreatite aguda pode ocorrer numa questão de horas ou dias após o consumo de álcool. Outras causas da pancreatite aguda incluem traumatismo abdominal, medicamentos, infecções, tumores, anomalias genéticas e dos canais do pâncreas.
  • Sintomas
    A pancreatite aguda começa, geralmente, com dor súbita ou gradual no abdómen superior que às vezes se estende para as costas. A dor pode ser leve no início, com agravamento depois da ingestão de alimentos. Mais frequentemente, a dor é grave desde o inicio, podendo tornar-se constante e durar vários dias. Os pacientes geralmente sentem um profundo mal estar e necessitam de assistência médica imediata. Outros sintomas podem incluir:
    • abdómen inchado e doloroso
    • náuseas e vómitos
    • febre
    • taquicardia

    A pancreatite aguda grave pode provocar desidratação profunda e queda da tensão arterial. O coração, os pulmões ou os rins podem falhar e podem ocorrer hemorragias no pâncreas com choque e eventual morte.
  • Diagnóstico
    O médico irá fazer a história clínica e efetuar um exame físico completo. As análises de sangue vão ajudar ao diagnóstico. Durante a pancreatite aguda, o sangue contém, pelo menos, três vezes a quantidade normal de amilase e lipase, duas enzimas digestivas produzidas no pâncreas. Pode haver alterações nos níveis de glucose, cálcio, magnésio, sódio, potássio e bicarbonato. Após a recuperação, estes níveis voltam geralmente ao normal.
    Diagnosticar uma pancreatite aguda é frequentemente difícil, devido à localização profunda do pâncreas. O médico irá provavelmente pedir um ou mais dos seguintes exames:
    • Ecotomografia abdominal – um gerador de ultrassons envia ondas sonoras para o pâncreas, através de um dispositivo portátil que o médico faz deslizar sobre o abdómen. As ondas sonoras embatem no pâncreas, na vesícula biliar, no fígado e noutros órgãos e os respectivos ecos são analisados por um computador, criando uma imagem no ecrã. Se houver cálculos biliares presentes, serão detetados com precisão.
    • Tomografia axial computadorizada (TAC) – A TAC é uma técnica não invasiva de raios X que produz imagens tridimensionais de partes do corpo. O paciente fica deitado numa marquesa que desliza através de um grande anel. A TAC permite diagnosticar cálculos biliares e avaliar a extensão dos danos provocados no pâncreas.
    • Ecoendoscopia – Neste caso, o médico insere um endoscópio flexível através da boca, até ao estômago e duodeno. Na extremidade do endoscópio, existe um gerador de ultrassons que envia ondas sonoras para o pâncreas. As ondas sonoras embatem no pâncreas, na vesícula biliar, no fígado e noutros órgãos e os respetivos ecos são analisados por um computador, criando uma imagem no ecrã. A vantagem principal desta técnica é a proximidade entre a sonda emissora de ultrassons e o pâncreas (apenas alguns centímetros), o que permite obter imagens muito detalhadas.
    • Colangiopancretatografia por ressonância magnética – A CPRM utiliza a ressonância magnética, uma técnica sem radiação capaz de produzir imagens de secção transversal de partes do corpo. O paciente apenas tem que ficar deitado numa marquesa que se vai deslocando dentro de um grande anel. É injetado contraste no paciente, o que permite uma melhor visualização dos canais do pâncreas, colédoco e vesícula biliar.
    • Colangiopancreatografia Endoscópica Retrógrada (CPRE) – A CPRE é uma técnica especializada utilizada para visualizar o pâncreas, vesícula biliar e ductos biliares e tratar as complicações da pancreatite aguda e crónica, cálculos biliares, estreitamento ou obstrução dos ductos biliares ou canal pancreático e pseudoquistos (acumulações de fluido e restos de tecido junto ao pâncreas). O médico insere um endoscópio flexível até ao duodeno e injeta um contraste nos ductos biliares, vesícula e canal pancreático. Depois, são feitas radiografias em que se podem ver com grande detalhe as anomalias presentes. Para além do diagnóstico, podem ser feitas intervenções terapêuticas, como extração de cálculos ou colocação de pequenos tubos para drenagem das secreções. A CPRE pode ser um exame extremamente útil, mas está sujeita a complicações (pancreatite grave, infeção, perfuração intestinal e hemorragia), pelo que, após a realização de uma CPRE, há sempre um período de observação até o paciente poder ter alta.
  • Tratamento
    O tratamento da pancreatite aguda envolve internamento hospitalar para administração de fluidos intravenosos, antibióticos e medicamentos para aliviar a dor. O paciente não pode ingerir alimentos, para que o pâncreas possa descansar. Em caso de vómitos, é feita a introdução de um tubo no estômago, através do nariz, para remover secreções.
    A menos que surjam complicações, a pancreatite aguda resolve-se em poucos dias. Em casos graves, poderá ser necessário proceder, durante várias semanas, a alimentação com um líquido especial administrado por um tubo inserido através do nariz até ao estômago.
    Antes de deixar o hospital, as recomendações são não fumar, não beber bebidas alcoólicas e não ingerir alimentos gordurosos.
    Em alguns casos, a causa da pancreatite é clara, mas noutros casos é necessária a realização de mais exames após a alta.
  • Complicações da Pancreatite Aguda
    Os cálculos biliares que provocam pancreatite aguda requerem a remoção cirúrgica das pedras e da vesícula biliar. Pode ser necessário fazer uma CPRE antes da remoção cirúrgica da vesícula (colecistectomia).
    No caso de ocorrer uma infecção grave, pode ser também necessário recorrer a CPRE ou cirurgia para drenar a área infectada. O recurso a cirurgia é, por vezes, igualmente inevitável se houver grandes zonas de destruição do pâncreas ou hemorragias.
    Os pseudoquistos são acumulações de fluidos e restos de tecido do pâncreas que necessitam de drenagem, quer por CPRE quer por Ecoendoscopia.
    Em casos excepcionalmente graves, o paciente pode desenvolver insuficiência renal aguda e falência respiratória, sendo necessário o uso de hemodiálise e ventiladores.
  • O que é pancreatite crónica?
    A pancreatite crónica é uma inflamação do pâncreas que não evolui para recuperação, pelo contrário, piora com o tempo e provoca danos permanentes. A pancreatite crónica, tal como a pancreatite aguda, ocorre quando as enzimas digestivas ativadas atacam o pâncreas e tecidos próximos, provocando episódios de dor. A pancreatite crónica ocorre geralmente em pessoas com idades entre os 30 e 40 anos.
    A causa mais comum da pancreatite crónica é o abuso crónico de álcool. A pancreatite crónica pode ser desencadeada por uma crise aguda que danifica o ducto pancreático. O ducto danificado provoca uma inflamação do pâncreas, que, por sua vez, leva ao desenvolvimento de tecido cicatricial com destruição progressiva do pâncreas e calcificação.

    Outras causas de pancreatite crónica são:
    • doenças hereditárias do pâncreas
    • fibrose quística
    • níveis elevados de cálcio no sangue
    • níveis muito elevados de gorduras e triglicéridos no sangue
    • alguns medicamentos
    • certas doenças autoimunes
    • num número substancial de casos, não se consegue encontrar uma causa

    A pancreatite hereditária ocorre em indivíduos com menos de 30 anos de idade e pode levar alguns anos a ser diagnosticada. Há múltiplos episódios de dor abdominal e diarreia com duração de vários dias e, ao longo dos anos, há uma evolução para pancreatite crónica. O diagnóstico de pancreatite hereditária é mais provável se o paciente tiver dois ou mais membros da família com pancreatite.
  • Sintomas
    A maioria das pessoas com pancreatite tem dor crónica na zona superior do abdómen, embora algumas pessoas não sintam dor nenhuma.
    A dor pode irradiar para as costas e geralmente piora com a ingestão de alimentos, podendo tornar-se constante e incapacitante. Em alguns casos, a dor abdominal acaba por desaparecer com a destruição progressiva do pâncreas. Outros sintomas incluem:
    • náuseas
    • vómitos
    • perda de peso
    • diarreia
    • fezes gordurosas

    Frequentemente, as pessoas com pancreatite crónica perdem peso, mesmo quando os seus hábitos alimentares e de apetite são normais. A perda de peso acontece, porque o pâncreas não segrega enzimas pancreáticas suficientes para digerir os alimentos.
  • Diagnóstico
    A pancreatite crónica é muitas vezes confundida com pancreatite aguda, porque os sintomas são semelhantes. Tal como acontece com a pancreatite aguda, o médico tem que fazer a história clínica e proceder a um exame físico completo. As análises de sangue (amilase e lipase) podem ajudar no diagnóstico, mas por vezes os níveis estão normais. Igualmente importante é a medição da glucose no sangue e a pesquisa de gorduras nas fezes. No diagnóstico, utilizam-se com frequência a radiografia simples do abdómen, a ecotomografia abdominal, a ecoendoscopia, a TAC abdominal e a ressonância magnética
  • Tratamento
    O tratamento da pancreatite crónica pode necessitar de hospitalização para controlo da dor, hidratação e apoio nutricional.
    Após a alta, o médico poderá receitar a ingestão de enzimas pancreáticas a todas as refeições. O regime alimentar adequado é uma dieta nutritiva com baixo teor em gorduras e refeições pequenas assim bem como a ingestão de muitos líquidos e a restrição de bebidas com cafeína. É importante a colaboração de um nutricionista.
    As pessoas com pancreatite crónica não devem fumar nem consumir bebidas alcoólicas, já que isso acelera a progressão da doença.
    Tal como acontece com a pancreatite aguda, a CPRE é utilizada para identificar e tratar as complicações associadas a pancreatite crónica, tais como cálculos biliares, pseudoquistos e estreitamento ou obstrução dos canais. Poderá ser necessário recorrer a cirurgia para remover parte do pâncreas.
    Em casos de dor forte e persistente, a cirurgia ou outros procedimentos são por vezes recomendados para bloquear os nervos da zona abdominal que causam a dor.
    Na pancreatite crónica, quando o tecido pancreático é destruído, as células produtoras de insulina do pâncreas, chamadas células beta, são também destruídas, o que pode provocar diabetes. Nesses casos, poderá ser necessária a administração de insulina ou outros medicamentos para manter a glicose no sangue a níveis normais.

A reter:

  • A pancreatite é uma inflamação do pâncreas causada por enzimas digestivas ativadas que vão danificando o tecido pancreático.
  • A pancreatite tem duas formas: aguda e crónica.
  • As causas mais comuns de pancreatite são os cálculos biliares e o consumo excessivo de álcool.
  • Por vezes, e apesar de múltiplos exames, não é possível descobrir a causa da pancreatite.
  • Os sintomas de pancreatite aguda incluem dor abdominal, náuseas, vómitos, febre e taquicardia.
  • O tratamento para a pancreatite aguda inclui a administração de fluidos endovenosos, antibióticos e medicamentos para a dor. O recurso à cirurgia é por vezes necessário para tratar eventuais complicações.
  • A pancreatite aguda pode tornar-se crónica se ocorrer um processo de destruição contínuo com desenvolvimento de fibrose e calcificação.
  • Os sintomas da pancreatite crónica incluem dor abdominal, náuseas, vómitos, perda de peso, diarreia e fezes gordurosas.
  • O tratamento para a pancreatite crónica inclui abstenção de álcool e tabaco, regime alimentar específico, enzimas e controlo da dor. Poderá ser necessário recorrer a cirurgia para remover parte do pâncreas.


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